Oferecimento:
Por Ronaldo Poeta
Na minha cidade, o Natal é uma festa de cores e sons. As praças viram cenários de sonhos, com neve artificial caindo sobre castelos iluminados. As avenidas brilham como se o céu tivesse descido à terra, e desfiles encantam multidões. Mas, na rua onde moro, não é Natal.
Aqui, as luzes não chegaram. Não há guirlandas nas portas, nem o brilho das estrelas artificiais pendurado nos postes. Papai Noel? Ele nunca andou por aqui. Talvez ache que as casas simples, as calçadas rachadas e as crianças de chinelos gastos não se encaixem em seu roteiro.
Mas, ironicamente, é aqui que o Natal vive de verdade. Não em renas mecânicas ou vitrines reluzentes, mas no abraço apertado do vizinho que empresta açúcar quando falta, no sorriso sincero de quem oferece um prato de bolo ou uma fatia de esperança.
A gente não tem trenós, mas tem cadeiras na calçada e histórias compartilhadas. Não temos neve artificial, mas temos a brisa da noite e a certeza de que o nascimento de Jesus foi simples, como nós. Aqui, ninguém finge alegria para as câmeras; a felicidade é real, ainda que discreta, feita de pequenos gestos e grandes afetos.
Na cidade, o Natal é espetáculo. Na minha rua, é realidade. Enquanto as luzes piscam longe daqui, acendemos as nossas, invisíveis para quem passa, mas brilhantes dentro de cada coração. Afinal, o verdadeiro espírito natalino nunca precisou de enfeites para existir.
Ronaldo Poeta